sexta-feira, 23 de abril de 2010

Semana do desafio

Quem foi que disse que ser mãe ou pai era fácil? Agora mesmo, estamos eu e meu marido e Gabriel oficialmente proibidos de entrar no quarto da Nina. Há um aviso na porta, que está fechada.

Sim, eu me indispus com ela agora há pouco porque ela ficou muito tempo na frente do computador, brincando com CDs-ROM educativos. Ela achou um monte deles guardados e foi brincando. Quando deu uma hora e meia dessa brincadeira, eu dei o toque que já tava bom (pra mim). Ela, relutantemente, fechou tudo. Daí a alguns minutos, veio o pai e disse que ela estava de férias (duas semanas) e que ela queria mais. OK.

Eu tinha feito bolo e estava comendo com Gabriel, mas queria que ela estivesse aqui. Avisei. Ela, nem tchum. O pai foi lá, ela não escutou. Quando fui de novo, já estava bem irritada. Mas ela veio. Depois eu disse que ela deveria terminar o que estava fazendo. Eu estava me referindo ao notebook aberto. Ele entendeu o que queria: jogar mais. Aí fiquei pau da vida e nervosamente tirei o CD do compartimento...

Por que estou contando tudo isso? Não sei exatamente. Ainda não houve desfecho para esse desentendimento. Fico me perguntando se sou rigorosa demais, se deveria tê-la deixado jogando enquanto ela estava a fim até o momento que ela se cansasse... Mas não dei conta.

Eu queria dividir um pouco com vocês alguns momentos que não são fáceis. Esta semana ela me escreveu o seguinte bilhete: "Mamãe, não quero mais fazer violino. 1000 desculpas." Eu li aquilo e fiquei me perguntando o que estava por trás daquelas palavras. Eu a chamei, coloquei-a no colo e fomos conversar. Eu lhe disse que a música fazia parte dela e que ela a levaria por toda a sua vida, onde quer que ela fosse. Eu também disse a ela que, apesar de ser filha de músicos, eu não tive incentivo para estudar, e quando as coisas ficavam difíceis para mim, eu desistia.

Não é a primeira vez que ela me diz que quer parar de tocar. E ela toca há quatro anos. Se você me julgar, vai pensar que sou uma mãe insensível e cruel. Mas eu acredito que o caminho da música é um caminho sem volta. É claro que estou recuperando com ela a música da minha infância. É como cuidar de um jardim que esteve sempre lá, mas está cheio de mato. Ele esta lá, mas é preciso trabalho e carinho para colocá-lo de novo no mapa, por assim dizer.

Estudar música não é fácil. Pode ser que para alguns virtuoses, o caminho seja menos dolorido no que diz respeito à técnica, sei lá. Mas para as pessoas normais, é ralação mesmo. Porém, é um esforço que vem do lado do prazer, pois é delicioso escutar a própria música, poder tocar com outras pessoas, apresentar-se, enfim, é um mundo riquíssimo de muitas oportunidades.

Outra coisa que disse a ela é a sorte que ela tem de ter a oportunidade de aprender música de maneira tão lúdica e amorosa como tem sido feito desde a sua iniciação. Eu não tive essa sorte. Estudei nos moldes tradicionais, com trocentas aulas de teoria e sem o apoio em casa. Finalmente, ela confessou que há uma música no repertório da orquestra que ela está achando bem difícil. É o Concerto Grosso de Claúdio Santoro. Ontem passamos a música, fizemos solfejo e acho que ficou menos difícil.

Vamos ver se consegui chegar ao ponto. Além de me abrir e desabafar, e claro, estou aqui para dizer aos pais que não há mesmo formulinha de bolo de como ser "bom" pai ou mãe. Muitas vezes não é fácil, os filhos nos mostram coisas que precisamos ver e aprender em nós mesmos. E a gente erra. E muito. Mas estamos tentando acertar, não é? Então desejo a todos uma semana de olhares mais atenciosos e amorosos com nossas crianças, que, em princípio, podem tudo, pois estão iniciando a vida. E mais conversa, mais brincadeira, mais história e... mais música!

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